Túneis / 1

Há quem lhe chame o túnel. Corredor
que vai desde a rua até ao mercado.
Quanda baixa a grade frente às entradas
o vigilante, fecha a luz, letreiros,
já ninguém se aventura pelas sombras.
Do passeio vêem mover-se as brasas
dos cigarros, ao ritmo das mãos,
ouvem risos de longe se nos rimos.
Cheira a urinas, está frio. Um dia
seus lábios encheram-no de carícias.
Pelas manhãs abre um homem do talho
que à tarde deixa diante do vidro
uma fila de ganchos. Muitas vezes
vejo pendurado aí o nada.