Túneis / 9
Um dia eu ouvirei falar na rádio
do amor, ao limpar os corredores
e gabinetes do grande edifício
da Esperança. Soará a voz
no carro, entre panos, sabões, baldes,
a voz que fala a todos do amor.
Enquanto aspiro a alcatifa, esfrego
retretes, erguer-se-ão as palavras
com seu pequeno túnel de verdades,
com aquelas cócegas miudinhas
da felicidade. E ao sair
vou para a rua como quem um dia
sai da maternidade e nos seus braços
leva um vazio, embala um vazio.